Preparado pelos times de ciência de dados e comunicação da Mentoring
Data de publicação: 24/05/2024
Nos últimos anos, com frequência o tema de layoffs no mercado de TI retorna às manchetes. Não está sendo diferente neste início de 2024. Desde startups brasileiras até as grandes techs americanas, nenhum setor parece estar imune aos cortes massivos de postos de trabalho. Exploramos estudos recentes e também os dados oficiais divulgados pelo governo, para compreender o quanto as notícias refletem de fato a realidade atual e as tendências para o mercado de trabalho no setor de tecnologia nacional.
Se é verdade que os relatos dos layoffs impactam o humor dos profissionais e animam em alguma medida os recrutadores para posições tech, por outro lado as estimativas de crescimento do mercado e a escassez de recursos apontam para outra direção.
Em termos de tendências para o Brasil, segundo relatório divulgado pelo Google há menos de um ano (*1), de 2021 a 2025 em torno de 53.000 profissionais devem se graduar anualmente no país, totalizando em torno de 265.000 novos bacharéis. A estimativa de demanda por novos profissionais, no entanto, seria maior, na casa de 800.000 pessoas. Ou seja, ainda faltariam mais de 500.000 trabalhadores (sim, quinhentos mil!) em cargos associados aos setores de TI no mercado brasileiro ao final do período.
Apesar das projeções de crescimento robusto para o mercado de trabalho, logo no início de 2024, uma nova leva de layoffs em grandes empresas americanas sacudiu as expectativas, seguindo o padrão observado no ano passado.
Relatórios divulgados pela Computerworld (*5), indicam que mais de 42.000 trabalhadores perderam seus empregos nos primeiros meses do ano em grandes corporações, dentre elas algumas referências para o mercado global de tecnologia. Somente na Tesla, por exemplo, foram 14.000 vagas eliminadas, conforme noticiado há poucos dias pelo site de monitoramento layoffs.fyi (*3), referenciando notícia do New York Times.
De acordo com o site FDi Intelligence e a revista Fortune (*2, 4), parece haver um consenso de que os layoffs observados após a pandemia ainda são relativamente pequenos quando comparados com o número explosivo de contratações durante a crise mundial do Covid, sobretudo nas grandes techs.
Em relatório publicado há pouco mais de 12 meses pelo FDi há a indicação de que somente Google, Microsoft e Meta aumentaram seus quadros globais em 190.000 trabalhadores entre 2019 e 2020. Em compensação, a partir de 2020, as 3 empresas teriam eliminado somente 33.000 das novas vagas.
* A escassez dos profissionais de tecnologia no Brasil e seu consequente impacto no ecossistema de startups (Google Brasil, 2023)
**Big tech layoffs barely touch pandemic-era hiring (FDi Intelligence, 2023)
A ampliação dos contratos em modalidade de home-office, o apetite por profissionais, e os altos salários pagos no exterior, tem atraído muitos talentos a prestar serviços para além das fronteiras de seus estados e países de origem. Combinada com esses fatores, a rápida recuperação econômica do Brasil também impulsionou o mercado, com um forte ritmo observado de contratações e disputa por profissionais nos últimos anos.
Procurando mensurar esse impacto, analisamos os dados de admissões e desligamentos divulgados pelo governo entre janeiro de 2022 a março de 2024, para cargos de tecnologia. Não restringimos a análise apenas às empresas de tecnologia, pois especulamos que, se há demanda reprimida, então eventuais desligamentos seriam compensados por contratações em outros setores. As movimentações analisadas foram de posições formais de trabalho.
O foco do estudo não foi apenas o saldo líquido de vagas (admissões menos desligamentos) mas também os tipos de desligamento, para contrastar o número de desligamentos a pedido dos funcionários com os demais tipos, principalmente as situações em que a empresa demite o colaborador. No período citado, analisamos mais de 1,1 milhão de movimentações (admissões ou desligamentos).
A criação de vagas segue acontecendo, apesar do arrefecimento a partir do 4o trimestre de 22. Exatamente no trimestre em que o mercado inicia o desaquecimento (4o trimestre de 2022), ocorre também uma inflexão , com os desligamentos a pedido (colaboradores pedindo demissão) sendo igualados por outros tipos de desligamentos. Nos trimestres seguintes a tendência inverte, com os desligamentos a pedido sendo superados pelos outros tipos.
O mercado se mantém em alta, contratando e criando novas vagas, mas o desaquecimento fica evidenciado pelo fato de que há menos colaboradores pedindo desligamento em relação aos patamares observados em 2022.
Em 2024 vemos um cenário similar ao do ano passado.
Conforme conceitos relacionados à gestão por competências, que tem estado em evidência entre profissionais de recursos humanos e gestores em geral, não basta aos profissionais o domínio de conhecimentos formais para gerar resultados às organizações.
A experiência, e junto com ela o desenvolvimento de soft skills, podem ser igualmente importantes para que o profissional viabilize as entregas esperadas.
Esse contexto também pressiona o mercado, visto que a fuga de talentos para mercados internacionais e a pressão crescente por novos profissionais, tornam mais escassos profissionais com perfis senior (*1), fundamentais para atender as demandas com qualidade e orientar colegas que ainda estão nas etapas iniciais da carreira.
Os layoffs globais pós-pandemia no setor de TI estão relacionados a uma diminuição no ritmo de criação de vagas para cargos de tecnologia no Brasil, e também a uma diminuição nos pedidos de demissão por parte dos colaboradores a partir do final do ano de 2022.